Viva a Diferença!

Não tinha como não blogar, compartilhar e elogiar... ótimo texto!!!

Luto pela possibilidade da sutil diferença entre todos nós.
O resto é a vulgaridade do igual.

Caro Paulo,
Como todo ser nascido homem, sempre busquei a confirmação de que de fato eu era um homem como esperavam que um homem fosse. Era questão de preencher as expectativas de como se definia homem. Não foi fácil, principalmente porque eu era filho de uma família de seis filhos, todos homens. E com muitas referências legais do que era ser homem na geração anterior.
Eu sempre me conferia com o que se dizia ser homem. Para meu tormento, eu nem sempre acertava. Eu não jogava futebol, não gostava de carros nem queria ser engenheiro; era canhoto, gostava de ler, de cinema... enfim, um menino esquisito, sensível, com grande chance de ser viado.
Com o tempo fui descobrindo que eu estava muito mais certo do que a régua que me atormentava. E acabei construindo, dia a dia, o ser humano que sou. Mas minha vida importa menos do que o que eu aprendi com ela.
Se eu fosse veado
Durante o tempo em que me perguntava quanto homem eu era, aprendi a respeitar a diversidade, não por virtude, mas por interesse, como garantia de que, se eu fosse veado, teria um mundo que me aceitaria como eu era.
Não precisei da tal garantia, mas tive um grande aprendizado que me tornou uma pessoa mais inteligente, mais bem informada, mais íntima da vida. Por isso agradeço todo o tormento que tive por não ser um homem como se esperava que um homem fosse.
Acredito na possibilidade de dois homens ou duas mulheres serem felizes como um casal. Até porque vejo isso acontecer com amigos e amigas. Luto por seus direitos. Mas, mais que isso, luto contra qualquer tipo de estereótipo ou preconceito que impeça a manifestação natural e espontânea do ser humano em todas as suas nuances e possibilidades. Luto pela possibilidade da sutil diferença entre todos nós. Aí reside a vida no seu maior potencial de beleza e encantamento. O resto é a repetição e a vulgaridade do igual.
Cada vez que vejo um executivo tentando preencher uma expectativa para a qual ele não tem o potencial, me vejo nele como aquela criança sofrida por não preencher as expectativas dos outros. Tenho dó, pena, e me dá vontade de sair metralhando todos esses consultores “heterofóbicos” que escrevem livros de aeroporto com modelos de “como subir na vida”.
Eduquei meus filhos para a diversidade não porque a diversidade é uma causa nobre, mas porque acredito que a felicidade deles reside no exercício pleno da sua individualidade. Aliás, é isso que nos põe juntos nesta trincheira querida que é a nossa Trip.
Ricardo.
*Ricardo Guimarães, 62, é presidente da Thymus Branding
Via Revista Trip

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